Entrevista: Com o economista Edisio Freire por Michely Massa

A One Way conversou com Edisio Freire, baiano, casado e especialista em Finanças Comportamentais e Educação Financeira, para entender como se dá a relação entre alegria e finanças pessoais e o que fazer para evitar uma ressaca financeira.
Freire é economista há quase 20 anos, mas em 2012, diante de uma dificuldade financeira pessoal, decidiu se aprofundar em educação financeira e mudou primeiro o rumo da própria história para, depois, ajudar outras pessoas a viverem a mesma transformação.
Ao serem estimuladas com o hormônio do prazer e da alegria, as pessoas se tornam, em alguns casos, mais propensas ao consumo.
Hoje, tem quatro pós-graduações e uma extensão nas áreas de Finanças, Gestão Pública Empresarial e Política Estratégica, é professor, palestrante, educador e planejador financeiro e tem uma empresa de consultoria financeira com assessoria para empresas.
Referência no assunto e fonte em diversos veículos de comunicação, Freire nos concedeu essa entrevista cheia de leveza e de lições para o bolso e para a vida.
1. Alegria e finanças possuem conceitos bem diferentes e em áreas distintas, mas que se conversam. Como a alegria e o prazer interferem nas finanças pessoais?
Vamos encontrar prazer, obviamente, naquilo que nos traz mais felicidade, mais alegria, o que muda de acordo com o perfil de cada pessoa.
Na filosofia de Spinoza, a felicidade é o auge, quando se está na mais alta potência de agir e você não quer que esse momento acabe. Trazendo isso para as finanças, ao serem estimuladas com o hormônio do prazer e da alegria, as pessoas se tornam, em alguns casos, mais propensas ao consumo.

Há um apelo do marketing para questões voltadas ao prazer, ao status, que vão impulsionar o consumo. Se não houver controle emocional sobre isso, a pessoa acaba sendo levada.
2. Então, o ato de comprar pode representar, muitas vezes, essa potência de ação e de felicidade?
Consumir, gastar, comprar são ações que dão prazer. Eu brinco sempre dizendo: ‘eu gosto muito de comprar, mas não gosto muito de pagar!’ Na hora de pagar é ruim, mas comprar é bom. O consumir é bom.
Gastar não é errado. Gastar sem poder é. Você vai se endividar e entrar em um ciclo prejudicial à sua vida, não só financeira, como emocional, e atrapalhar suas relações na família, no trabalho. É esse nível de situação que a gente precisa, de fato, cuidar.
Essa relação da felicidade, da alegria e do prazer ao consumo é muito peculiar e recorrente. Em alusão às questões de festa, de carnaval, a pessoa está muito motivada porque quer muito viajar, conhecer um lugar, passar o carnaval, então, acaba não fazendo conta porque naquele momento está muito estimulada pelo prazer, pelo desejo de consumir, pelo desejo de fazer. Quando a festa acaba, a consciência volta e ela pode cair em uma reflexão bem delicada.
3. É possível utilizar o dinheiro e ter essa sensação de prazer de maneira mais consciente, sem remorso ou ressaca financeira?
Às vezes, a pessoa não consegue parar de comprar. Toda vez que está transtornada com alguma situação, ela acaba se debruçando no consumo, vai para o shopping, estoura cartão de crédito”
4. Quando o consumo para satisfazer essa felicidade, ainda que momentânea, se torna um problema?
Há distúrbios financeiros relacionados ao consumo: consumo de forma desordenada ou um nível de avareza muito grande. Esses são elementos extremamente ligados à questão comportamental. Se eu estou triste, eu vou consumir. Se eu estou feliz, eu vou consumir porque estou feliz. Você busca essa fuga que, em muitos casos, é reflexo de algum comportamento ou trauma da infância. O consumo se torna uma forma de compensá-lo.

Fazendo um paralelo, é mais ou menos o que acontece com as pessoas que não conseguem emagrecer. É óbvio que existem casos de distúrbio hormonal e a questão do peso não estaria ligada à dieta, mas 90% das pessoas com sobrepeso emagreceriam com uma dieta bem estruturada. No entanto, a pessoa não consegue deixar de comer porque a comida dá prazer.
Para essa pessoa, o prazer não está no consumo, no comprar, está em comer. Então na hora que ela come, o hormônio da felicidade é ativado e ela sente alegria, prazer e isso faz com que ela não consiga parar de comer. E assim acontece nas finanças. Às vezes, a pessoa não consegue parar de comprar. Toda vez que está transtornada com alguma situação, ela acaba se debruçando no consumo, vai para o shopping, estoura cartão de crédito.
CASO REAL: Tem um caso muito interessante de uma cliente que estava em um trabalho de gerenciamento financeiro em um momento difícil, muito endividada, e isso gerava um estresse, uma angústia e uma frustração muito grandes. Como ela compensava isso? Gastando. Que paradoxo! El aumentava a sua dívida porque na hora da compra ela sentia prazer, aliviava o stresse.
Que paradoxo! Ela aumentava a sua dívida porque na hora da compra ela sentia prazer, aliviava o estresse.
5. Uma hora a conta chega...
A gente gosta de coisas boas e eu não estou dizendo que não se deva ter, mas é preciso construir o lastro para ter. Se você tiver coisas que não pode pagar, a conta vai chegar de alguma forma, seja a conta financeira, ou a conta emocional, porque o endividamento traz vários prejuízos emocionais.
6. O consumo de experiências e não de “coisas” seria mais saudável?
7. Como ter essas experiências sem despender muito dinheiro?
8. Afinal, o dinheiro traz felicidade?
O dinheiro em excesso tira a sua liberdade, sua privacidade, tranquilidade, autonomia e paz. Por que não buscar ter o suficiente?
Você pode seguir Edisio Freire no Instagram no endereço @edisiofreireoficial
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